quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Vivência e experiência


Lembram da historinha das garimpeiras africanas que comentei no último texto? Hoje, conversando a respeito com o meu namorado, resolvi ampliar um pouco o comentário, mas sob uma perspectiva diferente.
Quando ficamos sabendo de histórias assim, geralmente isso tem um impacto em nós, paramos para pensar, nos sensibilizamos, fazemos uma breve reflexão sobre como existe sofrimento no mundo e como nós deveríamos dar mais valor para a nossa vida sabendo disso etc. Contudo, esse momento dura muito pouco, o efeito do remédio é rápido demais, e cá estamos novamente achando que tudo é ruim demais. E foi nessa conversa com meu namorado que percebi que isso acontece porque a realidade dessas mulheres não faz parte integralmente da nossa realidade, não sabemos de fato que experiência é essa, e são as experiências que constróem o nosso caráter e, consequentemente, influem em nossas ações e comportamentos. Parece que precisamos passar pela situação, ter a vivência daquilo para que alcance uma transformação efetiva em nós. Isso me faz lembrar de um poema do Drummond, "Inocentes do Leblon":

"(...) Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem."

Não que nós ignoremos (alguma coisa, claro, sempre passa despercebida - é o nosso olhar bloqueado que se sobrepõe ao olhar mais lúcido; outra hora falarei disso...), mas parece que temos uma facilidade para esquecer. Não que isso seja pura negligência, mas exatamente por causa da questão da experiência. Seria ingenuidade demais desejar um outro meio de transformação que não fosse passar pela dificuldade, pela dor?



Ah, gostaria de sugerir uma leitura. Não é exatamente sobre isso que eu falei aqui, mas faz pensar na importância de olhar para o outro, de tentar não esquecer o que acontece na realidade (que é nossa também). Trata-se de um conto muito especial para mim: Angústia, de Anton Tchekhov. Mas sugiro preparar um pouco o espírito antes, porque o impacto que causa não se remedia tão rápido assim...

Deixo o link aqui, mas faz parte do livro "A dama do cachorrinho e outros contos", Editora 34.

http://www.lumiarte.com/luardeoutono/contosrussos/angustia-tchekhov.html

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