quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Existe é homem humano"


Ultimamente tenho conversado muito com o meu namorado sobre religião. Apesar das diferentes visões, tentamos sempre encontrar um ponto de equilíbrio e, no fim, acabamos até rindo.
Lembro de uma professora de filosofia que me disse uma vez: "Muitos falam: 'Política, futebol e religião não se discutem'. Como não discutir sobre coisas que interferem tanto na vida das pessoas?". Creio que ela tem razão. Mas por que as discussões são sempre tão negativas, tão temperamentais? Agora pensando talvez seja porque a relação que temos com essas coisas é negativa e temperamental
(generalizando, claro).
Eu tenho uma amiga de uma religião que, embora cristã como eu, é totalmente diferente d
a minha. É engraçado porque ela inclusive pensava, antes de me conhecer, que jamais poderia ser minha amiga por causa disso. Como todos sabem, os espíritas têm pacto com o demônio, logo nosso círculo de relacionamentos fica bem restrito... (não sei se é claro que é uma piada, o tom dessas palavras na minha mente pode não ser o mesmo na telinha do computador...). Enfim, somos grandes amigas e temos ótimas conversas a respeito de qualquer coisa, inclusive religião. Ela acha interessante a minha interpretação e eu acho a dela igualmente. Por quê? Porque os relacionamentos humanos são muito mais importantes do que opiniões. Sim, religião tem muito a ver com opinião, só que me parece que interfere um pouco mais nas nossas ações e comportamentos do que opiniões do tipo "eu acho que o homem não foi pra Lua", "o sistema de transporte público é ruim" etc.; justamente porque as religiões oferecem um guia de conduta a partir das interpretações que fazem.
Acho o termo "interp
retação" fundamental quando se fala disso. Os valores que uma determinada doutrina prega são tirados de textos. Textos geram visões diferentes. Meu namorado e eu estamos lendo Angústia, do Graciliano Ramos. Ele me mostrou um trecho que achou engraçado. Eu, quando li, achei triste. Tudo bem, a literatura não é um código moral. Mas sabemos que, tanto quanto os livros sagrados, é produto do homem. Mesmo que sejam inspirados por Deus ou por outra divindade, é fato que passaram, ao longo do tempo, por intervenções humanas. Não vou entrar na polêmica dos sacerdotes que supostamente tiraram partes ou escreveram outras, mas fico apenas na questão da tradução. É uma coisa muito complexa, que depende muito da cultura, da época, da pesquisa que o tradutor tenha que fazer. Logo, visto que os textos de onde se tiram as bases para a nossa vida sofrem inúmeros processos que os transformam, não tem como dizer "Isso é A verdade absoluta, tudo que for diferente disso é errado e condenável".
As religiões criam um complexo de culpa muito grande e muito ruim em nós, de modo geral. Já convivemos com tantas infelicidades, com tantos problemas, e o lugar onde deveríamos nos refugiar aponta o dedo na nossa cara e fala: "Você vai para o inferno. Você vai pagar. Deus castiga". Acho impressionante como as pessoas advinham o que Deus pensa. Você lê um trecho da Bíblia e INTERPRETA diferente da sua religião (ou de outra) e pronto, entra para o grupo dos hereges. Enquanto eu imagino que Deus olha para você e pensa: "Que bom que você aproveita sua inteligência, sua capacidade mental para questionar, para imaginar, para pensar".
Isso nos identifica como indivíduos e mostra como somos ricos. Isso, para mim, é a evolução que Deus espera de nós. Sem cobranças, sem culpas, sem infernos. Aproveitar o que há de bom nas coisas (inclusive e especialmente nas religiões) e transformar isso em algo melhor: em atitudes. Não acredita em nada? Tudo bem, não precisa. Até é melhor assim do que acreditar à toa, sem fazer nada. Mas não limitar nossa vida ao que pensamos ou deixamos de pensar já é acreditar em algo: que a vida é muito mais do que isso.


Outro dia volto a falar desse assunto, um pouco melhor, mais imparcial, mais refletidamente.
Mas hoje é isso o que eu queria falar.

Um comentário:

  1. Olha só, bom pensamento, mano!
    Gostei da sua maneira que você mostrou interpretar as diferentes religiões!
    ^__^
    Mas isto é realmente certo, respeito acima de tudo que pensamos sobre assuntos que não somos "fãs"

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